Comunicação

05 de December de 2014 | 16:03

Escolas militares versus escolas civis: Aos vencedores, as batatas?

Oras, se a violência tem adentrado os muros das escolas civis, por que essa grande maioria de comunidades escolares – profissionais em educação e alunos – deve ficar exposta a isso, enquanto uma minoria goza de proteção? De onde foi retirada a ideia de que há uma única maneira de criatividade, sempre pelo viés da doutrina, e que esta deve ser seguida? Qual é o padrão de medida capaz de garantir que pessoas questionadoras são perdedoras? Quem define que os colégios militares são os melhores em moral e caráter? Nesse sentido, o restante dos cidadãos que não faz parte desse rol é amoral, sem caráter e perdedor? Que herança deixarão os pais para os filhos, se delegam à polícia militar o dever de educá-los? Que autoridade os policiais militares têm para falar de militarizar escolas para pacificação se Goiás vive um surto de violência jamais visto, e Goiânia foi classificada entre as 30 cidades mais violentas do mundo? Como fica o papel dos sindicatos e dos movimentos sociais que têm empenhado na luta contra a imposição de um modelo cultural único? Devemos aceitar os colégios militares se vangloriarem de que não há vagas, e aos vencedores, as batatas?

Primeiramente, precisamos perceber que o discurso defensor das escolas militares trata-se do discurso de uma minoria que tenta manter a hierarquização e, consequentemente, a manutenção da divisão de classes (elite, média e massa). Em segundo lugar, é um discurso que vai na contramão do desenvolvimento humano, isto é, insiste em manter uma cultura dominante sobre a outra, como, por exemplo, pela imposição do gosto. Isso pode ser percebido em um trecho da matéria veiculada onde se afirma que nas escolas militares não há música hip-hop, ou seja, esse é um estilo musical proveniente de classe baixa (a massa), portanto deve ficar fora do ensino formal.

Voltando aos questionamentos, afirmamos que a grande maioria das pessoas quer acesso aos bens culturais, à proteção do estado, dignidade humana. Uma pequena minoria quer se manter na posição de dominador e, lamentavelmente, utilizam a escola e o saber como arma para manter a divisão de classes. Para isso, se autodenomina modelo a ser seguido, construindo uma imagem de melhores, de destaque, de vencedora, respaldada na meritocracia, nos números, no mérito. De maneira inconsciente, muitos passam a almejar esse modelo, sem se darem conta de que são apenas instrumentos de reforço ao impedimento dos direitos iguais e do acesso aos bens culturais do nosso país. Portanto, nós, enquanto sindicato, e com o apoio dos mais variados movimentos sociais, reafirmamos que o lado que devemos tomar não é o da proteção de uma minoria, mas devemos primar e lutar pela garantia de direitos iguais para todos. Escolas de qualidade para todos, isto é, que ofereçam uma formação pautada na consciência cidadã, no respeito às diferenças e na participação ativa de todos os agentes envolvidos nessa formação – família, escola e estado – cada um cumprindo o seu papel, sem transferir sua obrigação para outrem. Remuneração digna para todos os profissionais em educação. Condições dignas de trabalho para todos os profissionais em educação, sem distinção.

Edineia Pereira, Professora, Mestre em Letras e Linguística, secretária de Imprensa e Divulgação do Sintego




Imprimir