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20 de November de 2019 | 18:09

Presença da mãe de Marielle Franco marca a 19ª edição do Abraço Negro em Goiânia

Ocorreu na manhã desta quarta-feira (20), Dia Nacional da Consciência Negra, mais uma edição do Abraço Negro em Goiânia. Neste ano, o evento teve início na Câmara Municipal de Goiânia, com uma roda de diálogos e terminou com um abraço ao monumento da Estação Ferroviária, na Praça do Trabalhador. Mais de 600 estudantes de Goiânia, Anápolis e Aparecida de Goiânia, da rede pública de Educação estadual e municipais, participaram da atividade.

Com o objetivo de combater o racismo no ambiente escolar, o Abraço Negro chega a sua 19ª edição, homenageando a vereadora Marielle Franco, negra e defensora dos direitos humanos, que foi assassinada brutalmente em março de 2018, em um caso sem total elucidação até o momento.

O evento de 2019 foi marcado pela presença da mãe de Marielle Franco, a advogada Marinete Silva, que ficou bastante honrada com a homenagem à filha, e com o trabalho desenvolvido em ações antirracistas propostas pelo sindicato. Ela participou da mesa de diálogos, mediada e coordenada pela professora Roseane Ramos, juntamente com a estudante de Políticas Públicas da UFF, Bruna Rodrigues; o advogado Wanderson Pinheiro; o presidente da Câmara de Vereadores, Romário Policarpo; a presidente do SINTEGO e da CUT-GO, Bia de Lima; e a coordenadora nacional do MNU, tesoureira do SINTEGO, secretária de Combate ao Racismo da CNTE, Iêda Leal.

“O SINTEGO fez um lindo trabalho ao longo do ano, muita clareza. E neste dia tão simbólico, 20 de novembro, trazer a juventude para este tipo de discussão é muito importante, era isso que Marielle também fazia. Combater e lutar contra o racismo, para que ninguém mais sofra as consequências disso!”, afirmou Marinete Silva, emocionada.

A estudante Bruna passou aos/as estudantes, que participaram da atividade uma mensagem de resistência e perseverança. “A sociedade tem limitado a juventude negra, mas ver tanta diversidade nesse espaço é a prova de que: devagar estamos conseguindo vivenciar as nossas potencialidades. Sejam quem vocês quiserem, se mostrem, se apropriem de todos os espaços, todo mundo aqui tem a oportunidade de contribuir para uma sociedade melhor”, ressaltou a carioca.

Em sua fala, o advogado Wanderson Pinheiro destacou que há poucos anos estava na mesma posição dos/as estudantes. De acordo com ele, é fundamental deixar a ideia de meritocracia e trabalhar pela emancipação do povo negro. “Sei que todos/as aqui têm sonhos. Tenho a realidade muito próxima a de vocês, mas sei que outros vieram antes de mim e talvez não conseguiram adentrar nesses espaços, mas colocaram um tijolinho para que eu pudesse estar aqui hoje. Precisamos acordar todos os dias com essa responsabilidade, de que várias pessoas sonharam, não conseguiram, mas permitiram que o nosso sonho se tornasse real. Eu quero dizer que é possível”, declarou o jurista.

O presidente da Câmara de Vereadores de Goiânia, Romário Policarpo, se disse orgulhoso da realização do evento na Casa. Neste ano, ele sofreu um episódio de racismo na Câmara, o que gerou discussões sobre a ocupação dos espaços políticos por pessoas negras. ”Eu fico muito feliz em ver esse auditório lotado. Sou negro, venho de uma família pobre, morei na rua, e hoje sou presidente do segundo poder dessa cidade. Existe racismo sim, a violência é maior contra os negros sim, o Governo Federal é misógino, provoca a discórdia, distorce dados, vende a ideia de que quem luta contra o racismo é comunista. É preciso compreender a realidade, se basear em dados reais e não acreditar nessa falsa propagação de ideias. Nós é que temos a missão de mudar esse país. Fico muito orgulhoso de ter esse evento aqui nesta Casa e posso afirmar que no ano que vem, o 20 de novembro também será feriado em Goiânia, celebrando o Dia da Consciência Negra”, ressaltou ele.

Já a professora Bia de Lima, presidenta do SINTEGO e da CUT-GO, que participa do Abraço Negro desde as primeiras edições, reforçou em sua fala a importância do trabalho dos/as profissionais da Educação na luta antirracista. “Nós professores/as e trabalhadores/as da Educação jamais poderemos ser coniventes com qualquer tipo de manifestação do racismo, caso contrário, toda a nossa transmissão de conhecimento terá sido em vão. Enquanto uma pessoa morrer pela cor da pele, é nosso dever reagir, cobrar e defender a vida da população negra. Basta de racismo!”, concluiu Bia.

Iêda Leal, referência nacional na luta contra o Racismo, também falou da importância da ocupação da Câmara, simbolizando que ali também é um espaço de pertencimento da população negra. “É escola sem racismo, juventude fazendo a diferença, dentro da Câmara, dentro da Casa de Leis de Goiânia, mostrando que um outro mundo é possível. Nós vamos ocupar todos os espaços de poder sim, como bem diz a campanha da CNTE, ‘se o poder é bom, negros e negras quem o poder’”, finalizou.

A coordenadora do evento, professora Roseane Ramos, agradeceu a participação de todas as escolas, além da abertura dos diálogos com a comunidade. “Nós do SINTEGO acreditamos em duas vertentes de trabalho. A pedagógica que desenvolvemos nas escolas, com a comunidade, os diálogos com os/as estudantes, a conscientização, e a vertente da criminalização do racismo. Os racistas precisam ser punidos!”, exclamou ela.

A organização do Abraço Negro é do SINTEGO, por meio da Secretaria de Igualdade Racial, com apoio do Movimento Negro Unificado (MNU), Centro de Referência Negra Lélia Gonzalez, da Secretaria Estadual de Combate ao Racismo da CUT-GO, da Secretaria de Combate ao Racismo da CNTE e da Câmara Municipal de Goiânia.

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